quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Qualidade plástica

Apesar de mais caro, o concreto auto-adensável pode apresentar vantagens que reduzem o custo final da obra



Fotos: divulgaçãoQuando se cogita o uso de CAA (Concreto Auto-Adensável) numa obra, o primeiro argumento contrário é o alto custo desse material. Para concretos com fck de 20 MPa, a diferença de preços pode chegar a 18,3%, segundo estudo realizado pela UFG (Universidade Federal de Goiás), em novembro de 2005. Esse fator limitante automaticamente exclui o produto em obras com fck até 20 MPa e que não tenham restrições ao uso de vibradores ou não sejam densamente armadas. No entanto, a aplicação de concreto auto-adensável pode trazer outros benefícios à construção, em especial no que diz respeito à logística.

Fotos: divulgação
Slump Flow Test, com espalhamento de 60 cm

Em dezembro de 2004, o professor André Luiz Geyer e alunos da Escola de Engenharia Civil da UFG aceitaram o desafio proposto pela Arcel Construtora e a fornecedora de concreto Realmix: finalizar as obras do Residencial Sorelle, em Goiânia, substituindo o concreto convencional pelo CAA. A idéia era realizar uma análise comparativa entre os dois materiais e verificar até que ponto o preço do auto-adensável realmente compromete o uso em edificações. O resultado dessa parceria foi o projeto "Utilização de concreto auto-adensável em estruturas de edifícios com custos inferiores ao concreto convencional", vencedor do 12o Prêmio Falcão Bauer, concedido pela CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção).

Fotos: divulgação
Para utilizar concreto auto-adensável as fôrmas devem estar bem vedadas

A partir das mesmas condições oferecidas para o uso de concreto convencional com fck de 20 MPa, a equipe coordenada por Geyer constatou que a aplicação de CAA solucionava todos os problemas apresentados anteriormente, como o aparecimento de nichos ou o acabamento não satisfatório. Além disso, a mudança reduziu a mão-de-obra, equipamentos e consumo de energia elétrica antes necessários. Por ter maior trabalhabilidade, o CAA aumentou a velocidade de execução da estrutura. Com concreto tradicional leva-se em média quatro horas para concretar uma laje e com o auto-adensável esse tempo cai para uma hora e meia. Em altas temperaturas, isso permite uma menor exposição térmica do concreto dentro dos caminhões-betoneira e antecipa as operações de cura.

Onde é recomendado?
 Lajes de pequena espessura ou nervuradas 
 Fundações com hélice contínua ou parede-diafragma  Obras com acabamento de concreto aparente 
 Locais de difícil acesso Regiões com restrição de ruído 
 Peças pequenas, com muitos detalhes ou formato não convencional Estruturas com muitas ferragens

No entanto, o custo final da obra do Residencial Sorelle ficou 8% acima daquele que seria dispensado com os métodos tradicionais. "Com resistência de 20 MPa, esse material não tem boa viabilidade econômica por causa do custo dos aditivos. Já com concreto de fck acima de 25 MPa, com maior quantidade de cimento e menor consumo de aditivos, pode-se observar uma melhor relação custo- benefício", diz Geyer.

De acordo com a pesquisa, com fck de 40 MPa a diferença de preço entre os concretos cai para 1,8% e o custo final da estrutura ficaria em aproximadamente 5% mais vantajoso para o uso de CAA (veja tabelas). "Para se adequar à NBR 6118 - Projeto de Estruturas de Concreto - Procedimento, construtoras cada vez mais utilizam concretos acima de 30 MPa em regiões urbanas, favorecendo o mercado para o concreto auto-adensável e, conseqüentemente, forçando as concreteiras a oferecerem preços mais competitivos", acredita o engenheiro. O primeiro passo nesse sentido já foi dado:muitos aditivos - motivo pelo qual o preço do CAA é mais elevado - deixaram de ser importados e passaram a ser fabricados no Brasil e com preços mais acessíveis.

Fôrmas, treinamento e dosagem 
No caso específico do Residencial Sorelle não foi necessária qualquer alteração estrutural para receber o CAA. No planejamento de uma obra, o cuidado fundamental que deve ser tomado é com a qualidade das fôrmas. "Normalmente, qualquer engenheiro preocupa-se com a conferência e a vedação das fôrmas, mas no caso do concreto auto-adensável essa providência é capital para que não haja vazamentos", diz o consultor da Abesc (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem), Arcindo Vaquero y Mayor.

Fotos: divulgação
O CAA proporciona facilidade no espalhamento e nivelamento

Outro cuidado que deve ser tomado é no preparo do concreto. Os aditivos devem ser misturados imediatamente antes do lançamento, por um funcionário da concreteira e segundo as quantidades já estabelecidas. É preciso tomar muito cuidado com a combinação dos materiais, para que o resultado dessa mistura não comprometa o desempenho do concreto. "A escolha dos componentes deve ser de acordo com as especificidades de cada caso, levando em consideração não apenas o custo dos aditivos mas também aspectos como o clima da região e o comportamento desses materiais naquelas condições", diz a professora da Poli-USP (Universidade de São Paulo) Silvia Maria de Souza Selmo.

Apesar de sua aplicação ser mais simples por dispensar vibração e enxadas para espalhá-lo, é preciso também realizar um rápido treinamento da mão-de-obra, especialmente para que os funcionários tirem dúvidas e se familiarizem com o material. "Mesmo vendo a fluidez do concreto, algumas pessoas tentam usar o vibrador, seja por hábito ou por precaução. Isso é um erro. O CAA deve ser nivelado pelo próprio peso, sem forçar o adensamento. A vibração pode causar segregação e levar a futuras patologias", diz Geyer. No projeto estudado, foi feito um treinamento de oito horas e o número de trabalhadores foi reduzido de 13 para quatro.

O controle tecnológico do concreto auto-adensável no estado endurecido é realizado com os mesmos ensaios e procedimentos aplicados para o convencional. Porém, no estado fresco, o controle não é feito pelo Slump Test. Os processos mais recomendados são o Slump Flow Test, em que é considerado satisfatório um espalhamento de 60 a 75 cm, e o U-Box Test, normalmente feito em laboratórios ou na central de concreto.

Características diferenciadas
O concreto auto-adensável, criado no Japão na década de 1980, caracteriza-se pela sua fluidez, coesão e resistência à segregação. Para atingir essas qualidades, são adicionados mais finos (adições minerais ou fílers) e aditivos superplastificantes e/ou modificadores de viscosidade. Veja algumas características:
 Excelente acabamento 
 Bombeamento a grandes distâncias com maior velocidade
 Otimização e redução de mão-de-obra
 Mais rapidez na execução da obra 
 Melhores condições de segurança 
 Eliminação de ruídos causados pelo vibrador 
 Redução nas atividades de espalhamento e vibração
 Concretagem possível mesmo em estruturas densamente armadas 
 Mais possibilidades de trabalho em fôrmas pequenas ou muito detalhadas 
 Maior durabilidade, pois reduz falhas de concretagem (nichos)

 

Responsabilidade social 
A aplicação de concreto autoadensável também é vantajosa para empresas alinhadas à atual preocupação com seus impactos ambientais e sociais. Por utilizar finos na sua produção, o CAA é uma boa solução para o pó-de-brita, que freqüentemente não é aproveitado e, quando despejado em rios, causa assoreamentos e poluição. No concreto auto-adensável esse material substitui até 65% da areia natural, o que, conseqüentemente, acarreta uma menor exploração das jazidas de areia. O CAA também diminui a poluição sonora, já que não faz uso de vibradores, e contribui para uma redução no consumo de energia elétrica.

Fotos: divulgação
A mão-de-obra deve ser treinada para a execução do acabamento

A trabalhabilidade traz outras vantagens: além de minimizar os riscos de acidentes causados pelo excesso de pessoas sobre as lajes, o CAA reduz problemas ergonômicos nos trabalhadores, já que eles fazem um esforço menor no lançamento e acabamento, além de diminuir a possibilidade de problemas auditivos.

Incentivadas pelos bons resultados e pela melhor relação custo-benefício, construtoras estão abrindo mais espaço para o concreto autoadensável, especialmente na região Centro-Oeste. Em Goiânia, o terminal de passageiros do novo aeroporto da cidade está sendo construído com o material. A obra teve início em 2005 e deve ficar pronta em 2007.

Isso não significa, entretanto, que o CAA vá substituir o convencional. "Existem fatias de mercado específicas para ambos. Se você vai apenas fechar um buraco, trabalhar com estruturas pouco armadas ou não precisa de um acabamento altamente definido, a utilização do concreto auto-adensável pode se mostrar desvantajosa. Cada obra precisa ser avaliada meticulosamente para estabelecer quais são as reais necessidades", alerta Mayor. A professora Sílvia concorda e ainda pondera que o uso do CAA deve ser visto com cautela. "O concreto auto-adensável permitiu maior arrojo e estruturas mais esbeltas na construção civil, além de trazer uma série de benefícios diretos e indiretos. É natural que ele seja considerado o material dos sonhos para muitos construtores."

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