Por Bruno Loturco
Formação falha e falta de experiência dos profissionais responsáveis pela gerência de obras acarretam problemas com subsistemas, como a armação das estruturas, que exigem atenção para compatibilização com outros sistemas |
A coordenação de projeto nasceu da carência no encaminhamento de demandas de obra à fase de concepção, e da necessidade de apoiar a racionalização construtiva e o melhor uso da tecnologia e dos recursos. É importante entender essa gênese para que a função da coordenação não se perca com dissociação entre incorporação e construção. Esse profissional tem que dominar a cultura construtiva da empresa, participando desde a concepção até a obra.
A função do coordenador é, então, orientar os projetistas na verificação de projetos, questionando soluções propostas e exigindo alternativas de acordo com as demandas. No entanto, não lhe cabe compensar a deficiência técnica dos projetos contratados. "A coordenação visa levar à obra um projeto coeso, com problemas resolvidos na mesa de reunião", ilustra Walmir Cunha, gerente de projetos da Rossi Residencial.
Perfil profissional
Instalações em geral apresentam a maior incidência de problemas de compatibilização com outros subsistemas construtivos. A responsabilidade de evitar problemas é dos projetistas, mas a visão do coordenador é essencial para questionar soluções, alertar para problemas e exigir alternativas |
Na construção civil atual, a figura do coordenador não pode mais se atrelar exclusivamente à compatibilização. "Se considerarmos que é a função principal, o resto dos projetistas não será mais responsável por nada", ilustra a arquiteta Cecília Levy, coordenadora de projetos e presidente da Agesc (Associação Brasileira dos Gestores e Coordenadores de Projeto). Para que essa responsabilidade seja dividida com os projetistas, o coordenador deve alinhar a inserção de novas tecnologias.
Essa argumentação leva questionar a participação desse profissional nas decisões tecnológicas da empresa. Muitas vezes, ele acaba subordinado a uma estratégia de realização de investimentos com grande volume de obras, o que leva a soluções convencionais. Segundo Miriam Addor, arquiteta, sócia-diretora da Addor & Associados Consultoria em Projetos e Qualidade, "abandonamos o que já estava incorporado, em decorrência da demanda por prazo e custo, e voltamos às estruturas reticuladas, com alvenaria complicada".
Apesar de a responsabilidade pela compatibilização de projetos não ser do coordenador, esse profissional deve contar com experiência de obra para perceber conflitos entre especialidades. Uma coordenação atenta evita retrabalhos e pode influenciar positivamente no desempenho global da edificação |
Alia-se a essa questão a da qualidade dos projetos e a falta de formação dos profissionais envolvidos, que afeta o desenvolvimento da produção. Para Melhado, além da urgência para que os escritórios de projeto melhorem sua gestão interna, é essencial investir no planejamento integrado do processo de projeto. "Não estamos fazendo isso, mas desenho de cronograma", pontua.
Com a inserção de novas tecnologias no processo, como o BIM (Building Information Modeling), algumas tarefas podem ser automatizadas, como a compatibilização de interferências, liberando o coordenador para realizar serviços mais complexos, como controle de cronograma. Isso valoriza e exige mais do profissional, que precisa de melhor qualificação para interagir com os resultados de softwares. "Para os projetistas de estruturas, fazer cálculos não é mais importante, mas o conhecimento do comportamento estrutural", compara Melhado.
Fases da obra e funções do coordenador
Concepção do produto: apoiar o empreendedor no levantamento e definição de dados e informações para conceituar e caracterizar o partido do produto imobiliário e suas restrições. Definir as características demandadas para os projetistas a contratar.
Definição do produto: coordenar as atividades de consolidação do partido do produto, definindo as informações necessárias à verificação da viabilidade física e econômico-financeira, assim como à elaboração dos projetos legais.
Identificação e solução de interfaces de projeto: coordenar a conceituação e caracterização dos elementos do projeto, com as definições necessárias aos agentes envolvidos, resultando em soluções para as interferências entre sistemas e interfaces.
Detalhamento de projetos: definir o detalhamento dos
elementos de projeto, gerando um conjunto de documentos para caracterização das obras e serviços a serem executados, possibilitando a avaliação dos custos, métodos construtivos e prazos.
Pós-entrega de projetos: garantir a plena compreensão e utilização das informações de projeto e a sua correta aplicação e avaliar o desempenho do projeto em execução.
Pós-entrega da obra: coordenar a avaliação e retroalimentação do processo de projeto, envolvendo os agentes do empreendimento e gerando ações para melhoria em todos os níveis e atividades envolvidos.
Fonte: artigo "A Gestão de Projetos de Edificações e o Escopo de Serviços para Coordenação de Projetos". Pode ser visualizado na íntegra em www.revistatechne.com.br
Decisões centralizadas
Ela tem autonomia para apresentar e argumentar sobre soluções tecnológicas, todas submetidas ao gerente do empreendimento da construtora e à equipe de engenharia do cliente. O coordenador faz o meio de campo entre o desenvolvimento dos projetos e a execução, levando as explicações necessárias à equipe de obra e coletando dúvidas acerca dos projetos. "Eu as equaciono com os projetistas e alimento a obra com as respostas e informações adicionais."
Nas reuniões que orienta, gerencia prazos de desenvolvimento dos projetos, discute as soluções adotadas, as interferências, registra a ata e identifica responsabilidades. Cíntia afirma que "as informações são disponibilizadas por meio de projetos e planilhas, facilitando o trabalho de aquisições e execução", e propiciando aumento de produtividade. O acesso a tais informações se dá por ferramenta de colaboração online. Outros benefícios alcançados foram a minimização de interferências e incompatibilidades, melhor controle das informações e custos, gerenciamento do escopo e dos prazos de acordo com o cronograma de obra.
Atuação global
Na Rossi Residencial, a participação do coordenador ocorre em diversas etapas. Por exemplo, esse profissional trabalha desde a implantação do estande de vendas e das unidades-modelo decoradas. É o coordenador quem pauta as discussões com os departamentos comercial, de marketing, de incorporação, de projetos e de engenharia de produção e planejamento. O objetivo é estimular a busca de uma solução que prolongue a permanência do estande. "Isso otimiza o investimento nessas instalações e elimina os custos com sua relocação", explica Walmir Cunha, gerente de projetos da empresa.
Ao levar em conta as interfaces com a obra, o planejamento viabiliza que o estande permaneça por seis a nove meses após o início das obras. Embora faça parte da pauta de desenvolvimento que fica sob a tutela do coordenador, as sugestões podem ser apresentadas por qualquer membro. No caso da Rossi, que adota a coordenação externa, esse profissional não tem autonomia para a tomada de decisões. Ele levanta as necessidades e, por intermédio do gerente ou supervisor de desenvolvimento de projetos, as submete à empresa.
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Leia o artigo A gestão de Projetos de Edificações e o Escopo de Serviços para Coordenação de Projetos, escrito por Silvio Melhado, Eliane Adesse, Ricardo Bunemer, Maria Cecília Levy, Márcio Luongo e Marco Antonio Manso.
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