segunda-feira, 1 de março de 2010

Jogos de poder

As regras que podem fazer diferença e garantir a harmonia em casa

26/02/2010

Por Maria Helena Matarazzo*

Em todos os casamentos, logo no começo, muitos aspectos do relacionamento se encaixam quase automaticamente por uma questão de preferência, de hábito, por omissão ou por uma questão de competência.
Há uma infinidade de "mensagens", enviadas aberta ou sutilmente ("deixa que eu faço", "eu mando consertar"), que são aceitas ou rejeitadas pelos parceiros. São esses recados e a definição das áreas de competência ("eu entendo disso") que estabelecem a divisão do poder na relação a dois, quem vai decidir, quando e como.

Se um dos dois exercer maior poder, terá compensações: acabará impondo seus desejos. Mas pagará sempre um preço, pois levará a culpa sempre que algo der errado. Quem se submeter sofrerá, mas até certo ponto terá uma posição "confortável", porque nunca responderá pelo que não der certo.

No começo do relacionamento, cada um entra com determinados recursos (dinheiro, amigos, competência). É como se cada um desses recursos fosse um peso que se vai colocando nos pratos da balança do poder. De certa maneira, todas as pessoas medem o próprio valor pelo que possuem –inteligência, beleza física, competência para ganhar dinheiro ou resolver problemas, capacidade de atrair, de fazer amigos. Elas jogam com esses recursos para definir seu poder.

Normalmente, o poder fica com o parceiro que tem mais recursos. Mas muitas vezes esses recursos se contrabalançam. Por exemplo, um é mais introvertido, outro é mais sociável; um é mais inteligente, o outro tem mais senso prático. Esses recursos, porém, vão mudando. Alguns pesos caem da balança –como juventude, beleza, dinheiro – e se põem outros no lugar, como experiência, compreensão, tolerância.
Numa família, "quem manda mais" não é quem toma a maioria das decisões, mas sim que toma as decisões-chave. Estas decisões determinam o nível da balança de poder. Mas isso não é tudo. O poder de decisão não está sempre com quem dá a última palavra, pois muitas vezes quem decidiu foi quem convenceu.



O economista americano John K. Galbraith explica em seu livro Anatomia do Poder como uma pessoa pode impor sua vontade. Segundo ele, há três formas básicas de exercer o poder: via recompensa, castigo ou persuasão. Intuitivamente, é o que todos fazemos. Se você não consegue por bem nem por mal, acaba convencendo o outro a fazer aquilo que você deseja. Mas persuasão não é o mesmo que manipulação.

Manipulação é um jogo de poder. Significa controlar, manobrar com várias táticas, tais como estimular culpa ou medo, mentir, agradar, explorar para obter o que se quer. É como se a vida fosse um tabuleiro de xadrez e você jogasse pensando sobretudo nos seus interesses, sem levar o outro em consideração. Com frequência, as pessoas utilizam esses jogos, em vez de pedir o que querem, por não acreditarem que uma abordagem direta daria resultado.

Todos os jogos de poder são uma sequência de jogadas premeditadas que acabam levando a mais rodadas. O final é bastante previsível. Por sua vez, as manobras para persuadir também são conhecidas: ameaças, críticas, acusações, reclamações, sarcasmo, sermões, lágrimas.


Claude Steiner, analista transacional americano, ensina em seu livro O Outro Lado do Poder como as pessoas podem se defender aprendendo a neutralizar esses jogos. Ele diz também que certas pessoas estão tão habituadas a conseguir o que desejam controlando que só conseguem agir
assim. Elas manipulam compulsiva, sistemática, deliberadamente.
Transformam isso na razão da própria vida. Outras manipulam ocasionalmente, muitas vezes porque cresceram ou vivem em ambientes onde os jogos de poder são usados com frequência e livremente. Há
ainda quem rejeita o uso de jogos de poder conscientemente porque acredita que na vida é melhor cooperar do que competir.



Os relacionamentos se ajustam quando cada um procura preencher as necessidades do outro. Não é fácil. Exige luta e esforço. Requer também que cada um se conheça para achar novos caminhos. Conhecer-se significa entender a própria "loucura".



Diz-se que todos somos neuróticos. Mas o que é neurose? Neurose é o comportamento circular, repetitivo. É não conseguir fazer diferente.
Você está andando pela estrada da vida, está vendo o buraco, jura que não vai cair outra vez e, quando vê, já caiu.




Como a vida é uma transformação contínua, precisamos encontrar o comportamento alternativo, porque o que se deseja na vida a dois é chegar junto a algum lugar e não apenas ter razão ou destruir a do outro.


*Maria Helena Matarazzo é sexóloga e autora de Amar é Preciso, Nós Dois e Namorantes.

Nenhum comentário:

Powered By Blogger

Marcadores

GESTÃO (376) HR (9) MEIO AMBIENTE (12) PISOS (2) SAÚDE (15) TECNOLOGIA DO CONCRETO (360) UTILIDADES (14) VIAGENS (1)

Pesquisar este blog

Total de visualizações de página