Uma grande mudança no ambiente de uma organização exige medidas enérgicas e bem pensadas. Quanto maior a mudança, mais precisamos de vontade para reconsiderar todos as características do modelo de negócios de uma empresa. Vivemos num mundo de alta volatilidade e acontecimentos inesperados, evidenciado pela atual crise financeira mundial. Em tempos como esse, acredito que devemos reconsiderar o core de elementos que compõem a mentalidade administrativa: as presunções que temos de clientes, funcionários e objetivos; o modo como fazemos nossas escolhas estratégicas; e nosso princípio básico que direciona a empresa ao futuro. Recentemente, eu soube que o CEO de uma importante empresa européia de serviços de alta tecnologia sugeriu que o "DNA" de sua empresa precisava de uma "re-engenharia" para conseguir lidar com as novas mudanças ocorrendo no mundo. Esse desafio parece ser impressionante o bastante, mas acho que podemos ir além. Ele deverá considerar também a re-engenharia da mentalidade da equipe administrativa. Quais são os elementos que compõem uma nova mentalidade administrativa? De acordo com meu trabalho junto aos inúmeros gerentes e CEOs que passam pelo IMD, creio que há vários elementos a serem considerados.
Global
À primeira vista, isto pode parecer óbvio, até mesmo antiquado. Porém, isto envolve construir uma organização verdadeiramente global. Vai além de meramente terceirizar nossos materiais e vender nossos produtos em diversos países. Para ser global, é importante saber onde contratamos nossos talentos (incluindo aqueles com grande potencial e os executivos), onde esse talento é inserido e com quais parceiros devemos aprofundar o relacionamento. Com certeza, essa tarefa não é para os covardes! Serge Tchuruk, ex CEO da Alcatel, costumava dizer que "os negócios devem ser uma aventura". Muitos de seus compatriotas perceberam isso quando a Alcatel-Shanghai Bell foi estabelecida. A empresa tinha o poder de alterar a sua própria natureza. Já não existe mais uma organização com DNA exclusivamente nacional.
Criadores de risco
Há um velho ditado Bíblico que diz "os mansos herdarão a terra". Foi correto afirmar isso durante milhares de anos, porém, a impressão que tenho é que, com a velocidade do mundo de hoje, os mansos correm sério risco de serem deixados para trás. Equipes e empresas impressionantes são aquelas que elevam o padrão, e não as que nivelam por baixo. Ao invés de evitarem riscos, grandes organizações avançam os limites de seus negócios a ponto de criarem, e não somente de assumirem riscos. Essa "criação de riscos" eleva o espírito individual e de equipe e desestabiliza a concorrência despreparada.
Experimental
Neste mundo cada vez mais complexo, chegar a uma resposta certa única é uma ilusão. Não há mais respostas "realmente" certas, e há apenas algumas que podemos identificar antecipadamente. Sendo assim, precisamos de um novo estilo na tomada de decisões, começando com os líderes experimentando e confiando em hipóteses. Eles devem aprender com seus erros e agir decisivamente e com rapidez assim que a necessidade de correção é identificada. Nas palavras da agência de design IDEO, do Vale do Silício, "fracassar com freqüência para ter êxito com maior rapidez" se tornará o mantra dos tomadores de decisões do século 21.
Pense em como isso é realmente revolucionário. Significa que a elaboração de protótipos se tornará uma filosofia de vida; que o aprendizado através dos fracassos será visto como um modo instintivo para se ter insights. Fracassar bastante, com as devidas proporções, e ainda assim avançar sobre os limites do negócio, será visto como uma maneira melhor de tomar riscos arrojados, comparada ao tradicional "apostar todas as fichas" em um resultado já pré-determinado.
Consciente
Muito do que foi mencionado acima sugere que a empresa do século 21 será cheia de idéias e que as opiniões e os formadores de opinião serão seus verdadeiros bens competitivos. Isso significa que é desejável, quase imperativo, ter uma consciência de como as idéias entram na organização e de como elas evoluem do conceito à comercialização. Também significa que os processos e os papéis-chave, que permitem que tudo isso aconteça, são reconhecidos, apreciados e reforçados. Isso é mais do que simplesmente dizer "o conhecimento é importante!". Ao invés disso, precisamos de organizações que colocam o conhecimento no centro das investidas ao mercado. A Frito-Lay ainda vende salgadinhos, mas é o conhecimento de negócios que compartilha com o dono da loja que dita seu sucesso. O Ritz-Carlton ainda aluga quartos de hotel, mas é o conhecimento que tem do cliente que lhe dá a vantagem no mercado competitivo. A Holcim sempre venderá cimento, mas é seu conhecimento do processo de cimentação pelo mundo que a diferencia num negócio de commodities. Li & Fung sempre serão intermediários, mas é justamente sua posição no meio da cadeia de conhecimento das indústrias que garante seu valor. Nestas empresas, não há dúvida a respeito do poder do conhecimento. Portanto, idéias e opiniões contam mais agora do que em tempos tradicionais simplesmente porque são realmente essenciais ao sucesso da organização, e isto tem que estar claro para todos.
Energizantes
Como sempre, o sucesso competitivo depende da motivação, do talento, da criação de entusiasmo e de um sentimento de que algo realmente bom está sendo feito. O papel do líder em tais organizações é "energizar" as pessoas à sua volta com um senso de inclusão, respeito e empoderamento.
Estas são as novas funções para uma nova mentalidade administrativa. As equipes gerenciais que melhor adotarem estas funções serão as que melhor sobreviverão e prosperarão na crise. Novos mercados, novas tecnologias e novas normas de negócios significam que a mudança será um fator constante em nossas vidas. Quem sabe a melhor maneira para iniciar isso está em mudar a mentalidade administrativa!
William Fischer é professor de "Technology Management" no IMD http://www.imd.ch/ . Ele leciona no "Leading the Global Enterprise", um novo programa do IMD para executivos sêniors, e no "Orchestrating Winning Performance", além de ser diretor do programa "Driving Strategic Innovation".


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