terça-feira, 30 de junho de 2009

Reinventando a mentalidade administrativa 30 de junho de 2009


Como sobreviver e prosperar na crise? Confira no artigo do Professor William Fischer, do IMD de Lausanne/Suíça, exclusivo para o Administradores.com.br


Uma grande mudança no ambiente de uma organização exige medidas enérgicas e bem pensadas. Quanto maior a mudança, mais precisamos de vontade para reconsiderar todos as características do modelo de negócios de uma empresa. Vivemos num mundo de alta volatilidade e acontecimentos inesperados, evidenciado pela atual crise financeira mundial. Em tempos como esse, acredito que devemos reconsiderar o core de elementos que compõem a mentalidade administrativa: as presunções que temos de clientes, funcionários e objetivos; o modo como fazemos nossas escolhas estratégicas; e nosso princípio básico que direciona a empresa ao futuro. Recentemente, eu soube que o CEO de uma importante empresa européia de serviços de alta tecnologia sugeriu que o "DNA" de sua empresa precisava de uma "re-engenharia" para conseguir lidar com as novas mudanças ocorrendo no mundo. Esse desafio parece ser impressionante o bastante, mas acho que podemos ir além. Ele deverá considerar também a re-engenharia da mentalidade da equipe administrativa. Quais são os elementos que compõem uma nova mentalidade administrativa? De acordo com meu trabalho junto aos inúmeros gerentes e CEOs que passam pelo IMD, creio que há vários elementos a serem considerados.

Global

À primeira vista, isto pode parecer óbvio, até mesmo antiquado. Porém, isto envolve construir uma organização verdadeiramente global. Vai além de meramente terceirizar nossos materiais e vender nossos produtos em diversos países. Para ser global, é importante saber onde contratamos nossos talentos (incluindo aqueles com grande potencial e os executivos), onde esse talento é inserido e com quais parceiros devemos aprofundar o relacionamento. Com certeza, essa tarefa não é para os covardes! Serge Tchuruk, ex CEO da Alcatel, costumava dizer que "os negócios devem ser uma aventura". Muitos de seus compatriotas perceberam isso quando a Alcatel-Shanghai Bell foi estabelecida. A empresa tinha o poder de alterar a sua própria natureza. Já não existe mais uma organização com DNA exclusivamente nacional.

Criadores de risco

Há um velho ditado Bíblico que diz "os mansos herdarão a terra". Foi correto afirmar isso durante milhares de anos, porém, a impressão que tenho é que, com a velocidade do mundo de hoje, os mansos correm sério risco de serem deixados para trás. Equipes e empresas impressionantes são aquelas que elevam o padrão, e não as que nivelam por baixo. Ao invés de evitarem riscos, grandes organizações avançam os limites de seus negócios a ponto de criarem, e não somente de assumirem riscos. Essa "criação de riscos" eleva o espírito individual e de equipe e desestabiliza a concorrência despreparada.

Experimental

Neste mundo cada vez mais complexo, chegar a uma resposta certa única é uma ilusão. Não há mais respostas "realmente" certas, e há apenas algumas que podemos identificar antecipadamente. Sendo assim, precisamos de um novo estilo na tomada de decisões, começando com os líderes experimentando e confiando em hipóteses. Eles devem aprender com seus erros e agir decisivamente e com rapidez assim que a necessidade de correção é identificada. Nas palavras da agência de design IDEO, do Vale do Silício, "fracassar com freqüência para ter êxito com maior rapidez" se tornará o mantra dos tomadores de decisões do século 21.

Pense em como isso é realmente revolucionário. Significa que a elaboração de protótipos se tornará uma filosofia de vida; que o aprendizado através dos fracassos será visto como um modo instintivo para se ter insights. Fracassar bastante, com as devidas proporções, e ainda assim avançar sobre os limites do negócio, será visto como uma maneira melhor de tomar riscos arrojados, comparada ao tradicional "apostar todas as fichas" em um resultado já pré-determinado.

Consciente

Muito do que foi mencionado acima sugere que a empresa do século 21 será cheia de idéias e que as opiniões e os formadores de opinião serão seus verdadeiros bens competitivos. Isso significa que é desejável, quase imperativo, ter uma consciência de como as idéias entram na organização e de como elas evoluem do conceito à comercialização. Também significa que os processos e os papéis-chave, que permitem que tudo isso aconteça, são reconhecidos, apreciados e reforçados. Isso é mais do que simplesmente dizer "o conhecimento é importante!". Ao invés disso, precisamos de organizações que colocam o conhecimento no centro das investidas ao mercado. A Frito-Lay ainda vende salgadinhos, mas é o conhecimento de negócios que compartilha com o dono da loja que dita seu sucesso. O Ritz-Carlton ainda aluga quartos de hotel, mas é o conhecimento que tem do cliente que lhe dá a vantagem no mercado competitivo. A Holcim sempre venderá cimento, mas é seu conhecimento do processo de cimentação pelo mundo que a diferencia num negócio de commodities. Li & Fung sempre serão intermediários, mas é justamente sua posição no meio da cadeia de conhecimento das indústrias que garante seu valor. Nestas empresas, não há dúvida a respeito do poder do conhecimento. Portanto, idéias e opiniões contam mais agora do que em tempos tradicionais simplesmente porque são realmente essenciais ao sucesso da organização, e isto tem que estar claro para todos. 

Energizantes

Como sempre, o sucesso competitivo depende da motivação, do talento, da criação de entusiasmo e de um sentimento de que algo realmente bom está sendo feito. O papel do líder em tais organizações é "energizar" as pessoas à sua volta com um senso de inclusão, respeito e empoderamento.

Estas são as novas funções para uma nova mentalidade administrativa. As equipes gerenciais que melhor adotarem estas funções serão as que melhor sobreviverão e prosperarão na crise. Novos mercados, novas tecnologias e novas normas de negócios significam que a mudança será um fator constante em nossas vidas. Quem sabe a melhor maneira para iniciar isso está em mudar a mentalidade administrativa! 


William Fischer é professor de "Technology Management" no IMD http://www.imd.ch/ . Ele leciona no "Leading the Global Enterprise", um novo programa do IMD para executivos sêniors, e no "Orchestrating Winning Performance", além de ser diretor do programa "Driving Strategic Innovation".

Nenhum comentário:

Powered By Blogger

Marcadores

GESTÃO (376) HR (9) MEIO AMBIENTE (12) PISOS (2) SAÚDE (15) TECNOLOGIA DO CONCRETO (360) UTILIDADES (14) VIAGENS (1)

Pesquisar este blog

Total de visualizações de página