sábado, 2 de agosto de 2008

Juntas para revestimentos de argamassa

Veja as soluções para equacionar as movimentações da estrutura e não prejudicar o acabamento das fachadas
Não há apenas uma equação para escolher o tipo de junta mais adequado à argamassa de revestimento para fachadas. São muitas as tensões e as características dos materiais a serem levadas em conta. "É preciso ter sensibilidade e conhecer bem o comportamento da estrutura, da alvenaria e da argamassa, para prever possíveis patologias", diz Ercio Thomaz, do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo). Segundo Thomaz, a escolha de uma argamassa mais flexível, com maior poder de retenção de água, reduz a retração do material e a possibilidade de fissuras.

A incidência de patologias em fachadas é um dilema brasileiro e faz com que se pense em uma metodologia mais avançada de análise das condições prediais e climáticas. Essa análise pressupõe o desenvolvimento de um projeto para revestimentos e, talvez, uma nova especialização do trabalho, para a definição do melhor sistema de juntas ou selantes a serem executados em cada caso.

É o que indica a pesquisa da mestranda Fabiana Andrade Ribeiro, de Belo Horizonte. Com a revisão bibliográfica e análise de diferentes casos e patologias, Fabiana propõe com rigor teórico a sistematização de um projeto de revestimentos, com avaliação da edificação e das condições de exposição. "O Brasil não tem essa tradição, e por isso vêem-se tantos prédios remendados", afirma a estudiosa. "Além do comprometimento estético e funcional do prédio, as patologias acarretam altos custos de manutenção."

Influências

A função principal das juntas é aliviar as tensões na camada de revestimento, que podem descolá-lo da base. A ação de agentes externos, como incidência solar, chuvas ou ventos, é constante e ocasiona a movimentação das camadas constituintes do revestimento. Somem-se a isso as deformações da base e as diferentes tensões produzidas.

Estruturas de concreto, alvenarias, vedações e argamassas possuem características higrotérmicas e elásticas diferentes e movimentam-se de maneiras diversas, provocando tensões nas interfaces. Nesse caso, é necessário conhecer muito bem a capacidade de trabalho ou o módulo de deformação de cada material dentro das condições externas específicas - variações de temperatura e umidade - do local da obra, bem como prever o que ocorrerá nas interfaces.

O engenheiro Luis Fernando Bueno, da Gafisa, relembra que é imprescindível que a obra seja vista como um todo: a falta de planejamento ocasiona problemas, como também falhas na aplicação e a falta de manutenção.
Dessa forma, há basicamente duas soluções para o revestimento. A primeira é dissipar as tensões, reforçando, por exemplo, as interfaces com telas. Outra é eliminar essas tensões nas juntas, com o seccionamento de panos extensos. Segundo a professora Dra. Mércia Bottura de Barros, da Poli-USP, o melhor caminho seria poder deixar as secções livres de qualquer material, para que o revestimento pudesse dilatar e contrair livremente. O problema é que quando as juntas chegam à base, expõem estrutura e alvenaria às intempéries climáticas e infiltrações.

A junta não-preenchida concentra tensões e poupa os panos de fissuras
Preenchimento

Outra dificuldade é estudar o material resiliente que preenche a junta e melhor se adapta ao caso, já que a base tem de estar protegida sem impedir a movimentação dos panos do revestimento.

A introdução de um quarto elemento ao sistema, porém, obriga o projetista a avaliar a ação constante de agentes externos, que também ocasionam a degradação dos selantes elastoméricos - envelhecimento do material, perda de adesão e volume, fissuração, manchamento e mudança de cor, e impacto estético, na medida em que origina novas patologias.

No Brasil, a NBR 7200 menciona, para revestimentos de argamassa, apenas que as juntas devem ser produzidas de acordo com o projeto de revestimento, não havendo normalização para a execução, de fato, das juntas, que já são utilizadas no Brasil há bastante tempo.

Em países onde o uso dos sistemas de juntas é mais avançado, a normalização (ISO e ASTM) é abrangente e se volta ao dimensionamento, produção e controle da qualidade dos materiais de preenchimento. Essas normas exigem especificações para aplicação e manutenção dos selantes.


Execução de juntas abertas

1) Aplicação de argamassa sobre a base chapiscada
2) A parede é sarrafeada para minimizar desníveis, mantendo-se a espessura prevista no projeto
3) Com uma escova e uma desempenadeira, aplica-se água à superfície e fecham-se os poros surgidos durante o sarrafeamento
4) Ajusta-se a régua à fachada, fixando-a pelas extremidades, na posição exata em que a junta deve ser traçada
5) Novamente usando a escova, aplica-se água para umedecer a argamassa
6) A junta é traçada com o frisador


Tipos de juntas

À parte toda a terminologia e discussões teóricas quanto à classificação dos sistemas de juntas, nota-se a existência de dois tipos gerais para o revestimento em argamassa, determinados, quanto ao tratamento, em juntas abertas e seladas, ou não-preenchidas e preenchidas com material flexível ou selante. As últimas "podem ser chamadas de falsas juntas, já que não estão abertas até o ponto de fixação ou contato do revestimento com a base", acrescenta a professora Mércia.

As juntas abertas têm a grande vantagem de produzir uma barreira à passagem de umidade diretamente para a base por causa do formato da abertura, que promove o escoamento da água. São recomendáveis para revestimentos de argamassa de fachadas.

Juntas preenchidas

O preenchimento das juntas impede o contato da base com o ar e a água. Isso pode ser feito de duas formas: uso de sistema com selante, que é aplicado à junta após a cura da argamassa e o sistema pré-formado, onde o material celular é comprimido dentro da junta.

O selante pré-formado pode ser extrudado ou moldado, sendo o último também muito utilizado na recuperação de juntas deterioradas.

Por outro lado, o sistema com selante apresenta como elementos fundamentais o corpo de apoio (limitador de profundidade), o primer, a fita isoladora - em determinadas situações - e o selante, que interage com o substrato.

O substrato delineia as superfícies laterais das juntas, com as quais os materiais de preenchimento farão contato. No caso da argamassa, o substrato é classificado como poroso.

A problemática de substratos porosos gira em torno da adesão do selante ao substrato, decorrente de alguma incompatibilidade com produtos químicos (desmoldantes, agentes de cura ou elementos impregnantes). Por outro lado, a presença de poeira ou nata de cimento na superfície do substrato também prejudica a aderência.

Para que isso não aconteça, é necessário que esses materiais sejam previamente removidos.Outra preocupação é a capacidade de absorção de umidade, típica de materiais porosos. A argamassa pode até parecer seca durante a aplicação do selante, mas, se ocorrer liberação de umidade interna durante o processo de cura, a adesão do selante estará comprometida.

Para garantir maior compatibilidade química entre substrato e selante, opta-se pelo uso do primer, que aumenta a adesividade entre os materiais.

O primer não só muda as características químicas da superfície do substrato, como também preenche os poros e fortalece as áreas enfraquecidas, reduzindo a pressão capilar da umidade.

Outro elemento importante é o corpo de apoio, material compressível,
pré-fabricado. Define a quantidade, forma e profundidade a serem atingidas pelo selante, permitindo sua movimentação pela não-adesão do material ao fundo da junta.

No mercado, pode ser encontrado em seções circular, triangular e retangular, correspondentes ao formato final desejado para a junta. Os diâmetros variam de 6 a 75 mm e são comercializados em rolos ou barras.
A ASTM C 1193 determina as espumas de poliuretano, polietileno e poliolefinas em células abertas, fechadas, ou mistura de ambas, como materiais recomendáveis para esse uso. Ao contrário do que muito se vê em obras no Brasil, papelão, sacos de cimento ou mangueiras não resistem às permanentes deformações do selante, não sendo recomendáveis.

A fita isoladora é auto-adesiva, sensível à pressão e usada no fundo da junta para prevenir adesão do selante. É, em geral, feita de polietileno ou politetrafluoretileno e pode ser descartada quando se emprega um corpo de apoio, ao qual o selante não adere ou que seja flexível suficiente para permitir a movimentação da junta.

O selante é um produto à base de polímeros que se deforma sob tensão, mas tem a capacidade de manter o seu volume. Deve sempre acompanhar os movimentos cíclicos das juntas sem nenhuma alteração que influencie negativamente o desempenho, agindo tanto como material plástico quanto elástico.


Reportagem de Giovanny Gerolla
Téchne 108 - março de 2006

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